Sou republicano em Portugal e seria republicano se em Espanha. O regime monárquico parece-me um anacronismo. Et pourtant...
1. Existem vários regimes monárquicos na Europa. De cor aqui vai: Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, Noruega, Suécia, Luxemburgo, Espanha, Reino Unido. À vista desarmada eu diria que ser uma monarquia quase parece assegurar prosperidade, pois são monarquias muitos dos países mais ricos da Europa, do Mundo...
2. O ser um país monarquia ou república nasce sobretudo da história que a esse país aconteceu. A monarquia pereceu em Itália com a 2ª Grande Guerra e o alinhamento da mesma com Mussolini. Pereceu na Alemanha com a derrota na 1ª Grande Guerra. No Reino Unido a monarquia é algo intrínseco à ideia nacional e internacional do dito. De alguma forma é a monarquia que "une o reino". E no entanto permitiu por exemplo um referendo Escocês. Coloca-se a mesma questão com a Bélgica. De qualquer forma a intervenção dos monarcas europeus na vida política é simbólica e/ou nula. Reafirmo a palavra "simbólica" porque de símbolos vivem os países, estas grandes comunidades que são. E nenhuma das monarquias europeias - com a excepção da norueguesa - foi plebiscitada. Assim aconteceram, assim ficaram.
3. Espanha é um caso especial. Especial pela sua história. Quando se discute Espanha parece ainda que a sua história tem apenas 80-90 anos, como se começando apenas em 36. Onde uma Espanha republicana começou a ser derrotada por um futuro ditador, um general baixo e galego que dava pelo nome de. Já agora, a abdicação de Afonso XIII em 1931 nasceu de umas eleições municipais perdidas para os republicanos, não de um referendo (embora, na prática, as mesmas eleições fossem entendidas como tal). Espanha viveu uma transição da ditadura para a democracia muito curiosa, com a imposição de monarquia pelo ditador que saía, mas onde - incontestavelmente - o rei imposto por Franco foi fundamental para que a democracia se impusesse de uma forma incruenta. Embora Espanha seja a única monarquia europeia que já foi república e que o deixou de ser sem haver consulta popular, a verdade é que a transição aconteceu com a monarquia como um dado adquirido, sendo a mesma aceite tacitamente por Felipe González e Santiago Carrillo. Uma transição que permitiu que a direita reciclada se organizasse sob a AP de um triste ex-ministro de Franco, Manuel Fraga (realmente os galegos e Espanha... por diós!). Assim como o 25 de Abri já foi há 40 anos também a transição espanhola. E os panos quentes daqueles tempos estão esquecidos. O cuidado que houve para esquecer as velhas noções de vencedores e vencidos. Et pourtant...
4. A guerra civil espanhola foi uma guerra nada romântica - apesar de toda a poesia, de todos os romances escritos e dos filmes realizados. Aprendi ontem que Espanha é o segundo país do mundo com mais desaparecidos, a seguir ao Camboja. As Guerras dos Balcãs duraram com interrupções dez anos e provocaram 140000 mortos. A Guerra Civil Espanhola em três anos matou MEIO MILHÃO. Esta ferida é algo mais do que uma ferida apenas. E ainda não curou. A transição evitou um reacender dos conflitos, mas interessa saber se apenas os adiou em vez de os resolver. O que correu mal com Espanha?
5. O sucesso da transição espanhola assentou também em três partidos - a UCD de Suarez, o PSOE de Gonzalez e o PCE de Carrillo - e num acontecimento específico, a regionalização com a criação das autonomias, que em grande parte resolveu o problemas das nacionalidades históricas. Vejamos o que aconteceu a cada um destes factores. A UCD morreu com o apagar-se de Suarez. Foi absorvida pela AP/PP, na realidade um partido reciclado a partir de ex-franquistas e que depois adquiriu um líder, Aznar, com uma dialéctica nada conciliadora mas sim herdeira de tempos antigos. O PSOE chegou ao poder com Gonzalez, um feito histórico. Mas o poder não lhe fez bem. E a corrupção e a guerra suja contra o terrorismo passou factura a um partido que ficou definitivamente órfão dos tempos em que chamar-se "socialista" e "obrero" ainda tinha alguma lógica. O PCE foi mirrando tranquilamente, vítima da sua irrelevância eleitoral progressiva. Apagou o nome "comunista" da lista eleitoral - o que para nada serviu. Manteve-se como uma espécie de "segundo partido" onde o eleitorado votaria se. E as autonomias. Para começar o sistema eleitoral espanhol cometeu o erro de favorecer os partidos regionalistas, fazendo deles forças pivô no fazer e desfazer de governos. Logo o PNV e o CDC ganharam uma relevância nacional desproporcionada e começaram o seu jogo clássico de negociar autonomia e/ou dinheiro vs votos no congresso. Partidos de centro-direita por vocação e gestores de interesses por opção de classe, rapidamente caíram na corrupção - veja-se o Pujolismo. E levamos quarenta anos nisto. Por outro lado as autonomias criaram o cancro dos "barões" partidários, tanto no PSOE como no PP. A corrupção imobiliária começou a tomar conta de autonomias completas - em ambos os partidos. Milhões de pesetas e depois de euros compraram as consciências quase todas, as mais pesadas e as mais diáfanas.
6. A personalidade e prática cripto-franquista de Aznar, a traição terrível de Gonzalez a todo um povo que nele acreditou, o crescendo das chantagens autonómicas com a deriva independentista do PSC, tudo isto rematado com a abulia de Zapatero, permitiu que uma Espanha em crise económica, financeira e social se encontrasse dividida, partida em duas, como não tinha acontecido em quarenta anos. E agora?
7. Agora, repito, a questão monárquica parece-me ser aquela que menos interessa resolver. Mas as prioridades decidem-na os espanhóis, o que eu não sou. Independentemente de eu achar que, neste momento, um referendo manteria a monarquia "á frente" de Espanha. Mas não nos enganemos, à frente de Espanha está um galego (uma vez mais, é mania!) esquizofrénico chamado Rajoy, e por vontade popular - ou não seja o parlamento a representação do povo... - a governar tão legitimamente como, por ex., António Costa em Portugal!
8. O problema da democracia é que, querendo, todos podem votar... incluso los malos de la película! USA! USA! USA!...
4. A guerra civil espanhola foi uma guerra nada romântica - apesar de toda a poesia, de todos os romances escritos e dos filmes realizados. Aprendi ontem que Espanha é o segundo país do mundo com mais desaparecidos, a seguir ao Camboja. As Guerras dos Balcãs duraram com interrupções dez anos e provocaram 140000 mortos. A Guerra Civil Espanhola em três anos matou MEIO MILHÃO. Esta ferida é algo mais do que uma ferida apenas. E ainda não curou. A transição evitou um reacender dos conflitos, mas interessa saber se apenas os adiou em vez de os resolver. O que correu mal com Espanha?
5. O sucesso da transição espanhola assentou também em três partidos - a UCD de Suarez, o PSOE de Gonzalez e o PCE de Carrillo - e num acontecimento específico, a regionalização com a criação das autonomias, que em grande parte resolveu o problemas das nacionalidades históricas. Vejamos o que aconteceu a cada um destes factores. A UCD morreu com o apagar-se de Suarez. Foi absorvida pela AP/PP, na realidade um partido reciclado a partir de ex-franquistas e que depois adquiriu um líder, Aznar, com uma dialéctica nada conciliadora mas sim herdeira de tempos antigos. O PSOE chegou ao poder com Gonzalez, um feito histórico. Mas o poder não lhe fez bem. E a corrupção e a guerra suja contra o terrorismo passou factura a um partido que ficou definitivamente órfão dos tempos em que chamar-se "socialista" e "obrero" ainda tinha alguma lógica. O PCE foi mirrando tranquilamente, vítima da sua irrelevância eleitoral progressiva. Apagou o nome "comunista" da lista eleitoral - o que para nada serviu. Manteve-se como uma espécie de "segundo partido" onde o eleitorado votaria se. E as autonomias. Para começar o sistema eleitoral espanhol cometeu o erro de favorecer os partidos regionalistas, fazendo deles forças pivô no fazer e desfazer de governos. Logo o PNV e o CDC ganharam uma relevância nacional desproporcionada e começaram o seu jogo clássico de negociar autonomia e/ou dinheiro vs votos no congresso. Partidos de centro-direita por vocação e gestores de interesses por opção de classe, rapidamente caíram na corrupção - veja-se o Pujolismo. E levamos quarenta anos nisto. Por outro lado as autonomias criaram o cancro dos "barões" partidários, tanto no PSOE como no PP. A corrupção imobiliária começou a tomar conta de autonomias completas - em ambos os partidos. Milhões de pesetas e depois de euros compraram as consciências quase todas, as mais pesadas e as mais diáfanas.
6. A personalidade e prática cripto-franquista de Aznar, a traição terrível de Gonzalez a todo um povo que nele acreditou, o crescendo das chantagens autonómicas com a deriva independentista do PSC, tudo isto rematado com a abulia de Zapatero, permitiu que uma Espanha em crise económica, financeira e social se encontrasse dividida, partida em duas, como não tinha acontecido em quarenta anos. E agora?
7. Agora, repito, a questão monárquica parece-me ser aquela que menos interessa resolver. Mas as prioridades decidem-na os espanhóis, o que eu não sou. Independentemente de eu achar que, neste momento, um referendo manteria a monarquia "á frente" de Espanha. Mas não nos enganemos, à frente de Espanha está um galego (uma vez mais, é mania!) esquizofrénico chamado Rajoy, e por vontade popular - ou não seja o parlamento a representação do povo... - a governar tão legitimamente como, por ex., António Costa em Portugal!
8. O problema da democracia é que, querendo, todos podem votar... incluso los malos de la película! USA! USA! USA!...
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