Em Portugal os escritores norte-americanos são venerados. Eu venero Joyce Carol Oates. Voltou à minha mão - oh felicidade - um pequeno livro editado pela ASA e que se chama "Águas Negras" (no original "Black Water"). Baseado fortemente no acidente de Chappaquiddick de 1969, em que o senador Edward Kennedy atirou com um carro para um canal salvando-se e deixando morrer por falta de assistência a sua jovem acompanhante, Oates insistiu que o livro era mais do que isso, uma história sobre qualquer mulher que vê a sua confiança num homem mais velho atraiçoada, "violada". Há uma actualização temporal - o livro sai em 92 e, por exemplo, faz uma referência à primeira Guerra do Golfo - mas,,, todo o resto existe, todo o resto é triste e toda a escrita é brilhante, ou melhor, brilha no escuro da água negra em que a protagonista Kelly se afoga. Há um acrescentar de um primeiro homem violento, "G", que serve de antecâmara para a penetração decisiva, mortal, do "Senador" na vida, na morte de Kelly.
Homens, façam o favor de ler. Mulheres, também! Mas, atenção, este livro não é um manifesto, é literatura supina. E um aviso negro.
"E a água negra à sua volta subia imperceptivelmente, aqueles fios d'água a escorrerem a pingarem como lágrimas no seu rosto, era como o tactear, o sugar das bocas de centenas de sanguessugas cravadas na sua pele, não, era simplesmemente água, ela tremia convulsivamente na água com cheiro a esgoto, gasolina, óleo, a sua própria urina onde ela se sujara. Não me abandone. Estou aqui.
Num momento estavam a correr aos solavancos pela estrada sulcada, a Lua a brilhar em cima e o beijo dele ainda impresso na sua boca, no outro estavam a lutar para salvar as próprias vidas, e o que fazia, era pânico cego, ela compreendia.
Ela compreendia. Ela tinha fé.
Agora lembrava-se de quem ele era: O Senador.
Ela sentiu as pontas dos seus dedos nos seus ombros nus, a sua respiração que cheirava a cerveja, a álcool... ela não era uma má rapariga, podia explicar por que, na presença do Senador, se comportava de uma maneira que a fazia parecer, ou de facto ser, óbvia, previsível, banal.
No entanto, depois de terem sido apresentados, depois de terem estado a falar com tanta naturalidade, a descobrirem tantos assuntos de que falar, por exemplo o Carl Spader, por exemplo o Citizen's Inquiry, Kelly mudara a sua opinião sobre o homem.
- era de facto cordial, gentil. Interessava-se sinceramente pelos outros. E era sem dúvida inteligente.
Ensaiar o futuro, em palavras. As tuas palavras. A tua história. Pois não deves nunca duvidar de que haverá um futuro.
E que sentido de humor!"
Num momento estavam a correr aos solavancos pela estrada sulcada, a Lua a brilhar em cima e o beijo dele ainda impresso na sua boca, no outro estavam a lutar para salvar as próprias vidas, e o que fazia, era pânico cego, ela compreendia.
Ela compreendia. Ela tinha fé.
Agora lembrava-se de quem ele era: O Senador.
Ela sentiu as pontas dos seus dedos nos seus ombros nus, a sua respiração que cheirava a cerveja, a álcool... ela não era uma má rapariga, podia explicar por que, na presença do Senador, se comportava de uma maneira que a fazia parecer, ou de facto ser, óbvia, previsível, banal.
No entanto, depois de terem sido apresentados, depois de terem estado a falar com tanta naturalidade, a descobrirem tantos assuntos de que falar, por exemplo o Carl Spader, por exemplo o Citizen's Inquiry, Kelly mudara a sua opinião sobre o homem.
- era de facto cordial, gentil. Interessava-se sinceramente pelos outros. E era sem dúvida inteligente.
Ensaiar o futuro, em palavras. As tuas palavras. A tua história. Pois não deves nunca duvidar de que haverá um futuro.
E que sentido de humor!"
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