domingo, 13 de dezembro de 2015

O Bolhão e a Bolsa.

Há aproximadamente um mês pude visitar o mercado do Bolhão de manhã. Adivinha-se que o mercado não consegue a azáfama de outros tempos, mas as mulheres de sempre ainda ali estão, os cães, os sanitários "à indiana". E as bifanas, o verdadeiro prato popular do Porto, já que a francesinha é na verdade uma invenção tardia e burguesa. O Bolhão é uma preciosidade, uma jóia, um leão ferido mas que ainda vive. Quase lhe confere dignidade adicional a presença dos  andaimes e a noção de qua há ali um risco, de que a qualquer momento um pedaço de parede, de reboco, de tecto pode dar-nos a honra de ruir e nos mandar para o hospital ou para o cemitério.
O palácio da Bolsa curiosamente está numa parte mais antiga da cidade. A Bolsa já não existe, claro, e muita da capacidade burguesa da cidade migrou para sul, para a capital. Capacidade que em parte era inglesa - e a Feitoria Inglesa fica a cem metros - e em outra parte era "brasileira" ,pois só um gosto brasileiro pode explicar o faiscante Salão Árabe. Hoje o mesmo gosto que sanciona o Yeatman como "a varanda para ver o postal". O Porto é uma cidade desigual, injusta e


bruta. É uma paixão muitas vezes não correspondida. Entra-se numa sala e sentimo-nos em casa só porque reconhecemos as fartas patilhas do falecido Paulo Valada. E descansamos no facto de Rui Moreira ainda não se ter retratado, detalhe que em Lisboa, terra de vaidades fáceis, não seria compreendido. A Bolsa já não existe. O seu palácio merece uma que outra visita. Ao mercado do Bolhão queria eu poder ir todos os dias...

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