Bom, vou então dar os meus parabéns a Portugal. Porque, no meio destas confusões eleitoralistas, vai conseguir ter novas eleições mais tarde do que Espanha.
E o que separa Espanha de um governo de esquerda? Um referendo. Um simples referendo. Que aparentemente Catalunha quer mas a Constituição não deixa. Pablo Iglesias, o simpático rapaz do Podemos, sempre com aquele cabelo apanhado atrás que eu invejo, marcou a sua linha vermelha negocial na admissão desse referendo. Que, em sentido contrário, o é também para Pedro Sanchéz, o SG do PSOE. Curiosamente fica aqui por esclarecer quem é mais teimoso, já que juntos PSOE e Podemos não assegurariam governo nenhum, precisariam de apoio adicional de partidos autonomistas. parece-me a mim portanto que o PSOE se esconde na primeira negativa porque a seguir teria que dizer não ao que a Esquerda Republicana Catalã iria exigir, e não também às exigências da Bildu vasca.
Isto dos referendos para a independência de uma região de um país - não levem a mal a palavra região, uso-a com um intuito meramente geográfico - Espanha não é mais do que uma região da Europa, certo? - dizia eu que isto dos referendos para a independência de uma região de um país criam-me uma certa brotoeja, pois se o resultado é de tipo 51-49%, não podemos dar a independência a metade da coisa ficando a outra metade onde estava, nem vice-versa. Acho eu que uma coisa tão grande e poderosa como isso da independência pediria assim um consenso de uns 70%, ou mais. Para que a sociedade dessa região não ficasse, hum, um pouco para o partida. Infelizmente acho que esta minha opinião deve ser muito minoritária.
Espanha deve também ser um país, coitado, muito inseguro de si próprio. Portugal alegremente já fez inúmeras revisões da velha constitução de 75. E mais vai fazer, aposto. Espanha não, vive agarrada à Constituição de 78 como se fosse uma tábua de salvação contra o caos. E o caos chama-se autonomias e, Deus nos levivre, independências. Em Portugal esse problema é apenas insular, embora o caso particular da Madeira já nos tenha custado uns quantos milhões. Em Espanha - e porque em 78 ainda a transição era um passado presente - diluiu-se muito bem diluida a vontade autonómica de umas quantas regiões na criação de dezanove autonomias, dezanove repito, se contarmos com os anacronismos coloniais de Ceuta e Melilla. Estão por fazer as contas do dinheiro desperdiçado por Espanha com a criação destas dezanove "Madeiras". E digo isto mandando um abraço aos meus amigos madeirenses, cujo direito autonómico era e é óbvio, e a toda a grande Espanha, país de mais de meio milhão de km quadrados, e cuja descentralização governativa era uma necessidade. Custa-me perceber porém a necessidade de um parlamento em Cantabria, em La Rioja, regiões com menos população do que o distrito de Braga.
Curiosamente houve em 2014 um referendo para a independência da Escócia - que falhou. Falhou? Um referendo nunca falha, o resultado é o que é, a Escócia permanece no Reino Unido que se assim se chama por alguma razão é. Uma Escócia independente colocaria alguns problemas sérios, sendo um deles onde iria a Rainha Isabel II passar o verão. O facto é que o Reino Unido conseguiu sobreviver a um desses referendos. Parece que a Espanha não se atreve a arriscar.
Engraçado que a maior parte dos espanhóis não se interrogará seriamente porque para aí metade dos catalães e dos vascos, e talvez um terço dos galegos, não querem ser o que eles são: espanhóis. Engraçado que as metades catalãs e vascas que não querem ser espanholas não reflectem muito sobre o que fazer - depois, imaginemos, de um referendo ganho, que sempre o seria rés-vés - com a outra metade da sua região agora país que não queria deixar de ser espanhola.
Este texto já vai longo. Mas ainda faltam coisas. Eu, por exemplo, simpatizo imenso com a Catalunha e os Catalães. Julgo porém que vivem um momento histórico de maus governantes e má governação. "España me roba!" é um slogan miserável. E, pelo que sei, mentiroso. Artur Mas é um escroque e filho directo de uma infecção que atacou a Cataluña há umas décadas e que deu pelo nome de Jordi Pujol. Quem me desmente?
A Europa tem poucos países grandes - no sentido de "extensos". Esquecendo a Europa de Leste onde a "grandeza" da Ucrânia foi recentemente questionada militarmente pela Mãe-Rússia, grandes são a França, a Itália, a Alemanha e o Reino Unido. E a Espanha. Cada um deste países nasceu de uma forma original e única.
A Alemanha e a Itália nasceram no século XIX, sendo a Alemanha uma criação de Bismarck onde se reconheceu um nacionalismo unificador - a Alemanha, não esqueçamos que o alemão é a lingua-mãe mais falada na Europa, a seguir ao russo. A Itália foi uma invenção de Garibaldi, hoje também em perigo, dadas as terríveis assimetrias entre o Norte e o Sul italianos - mas aqui também existindo uma unidade linguística e de história: a Itália sempre existira, só faltava inventá-la.
Sobre o Reino Unido já falámos, ele afirma-se plural e, lentamente, aceita uma diversidade. A sua necessidade de ser "grande" - já não foi "aquele império"? - leva-o não só a manter-se "Unido" mas também a ponderar, curiosamente, sair da UE, onde é apenas mais um.
A França é um país especial cuja especialidade é acreditar que o mundo ainda acredita que tudo nasceu da Revolução Francesa. É essa especialidade em se acreditarem únicos que une os franceses. Deixá-los.
E a Espanha? Vá, já escrevi sobre a Espanha que chegue, essa invenção de uns Reis ditos Católicos - que há quem queira santificar! - criada numa aliança conjugal que, ao mesmo tempo, conquistou Granada e descobriu a América. Este Super-Mito curiosamente há muito que, acho, deixou de seduzir muitos espanhóis. A maioria? Para quando o elogio da Espanha da fantástica diversidade?
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