Já escrevi sobre esta história dos amantes. A ponte dos amantes em Paris na realidade não existe. Chama-se "Le Pont des Arts" e não sei muito bem quando começou a sofrer uma transposição de nomenclatura. Ou terá havido um filme... Depois começou aquela mania das chaves ou cadeados e a ponte quase veio abaixo. Eu compreendo, eu compreendo. Nada como por o cadeado cá fora para tentar que também aconteça lá dentro! Nisto dos cadeados quantos falsos positivos... A língua inglesa, na sua simplicidade, resolve a questão pela raiz: "love", "lovers". Mas acrescenta a mais assassina das frases: "I love you but I'm not in love with you!". Portanto, "to love" será diferente de "to be in love". No primeiro és, no segundo estás. "In love" sugere uma imersão, uma totalidade. Ninguém (ninguém?) está "in love" para sempre, mas os ingleses assumem que a paixão não é mais do que amor inc., derivados, um pico de forma mas que pede uma carreira. A frase acima tem por trás a sugestão de que não estou apaixonado - será que amo? Os ingleses, esses simplistas... Voltemos aos franceses. "Les amoureux" vs "les amants". Vi há pouco tempo em DVD o filme que revelou a Binoche, "Rendez-Vous", de Téchiné, aqui em casa com a minha filha. Não sei se envelheceu bem, o filme. Mas os franceses sempre foram - sempre serão? - muito... físicos nestas temáticas. Tempos antes tinha visto "Elle", de Verhoeven, um filme semi-francês de 2016. Comparando os dois - separados por trinta anos - foi assim que evoluiu o amor em França, o sexo? Pobres... mas adivinhava-se.
Volto atrás e ao medo que o Portugalzinho tem da palavra "amantes", o plural, e do desprezo que tem pelo singular "amante". Esta última palavra cobre apenas aquela particular situação da qual nunca queremos falar, não vá acontecer-nos a nós embora não connosco... O plural também atrapalha, e por isso por cá "tem-se" mas não "somos". A relação é utilitária e não de iguais. Se aceitássemos a igualdade talvez fôssemos obrigados a colocar a hipótese dos amantes terem, quiçá, a razão do seu lado. Posto isto, à minha doente devo a única vez que ouvi o uso do plural em terras pátrias e a transcrição de um diálogo por cá impossível ou quase: "não te preocupes comigo, amor, isto passa" "não, preocupo-me contigo porque SOMOS amantes!" (e isto disse ele). Quem mais? Perguntam-me, terá realmente acontecido este diálogo? Eu respondo que sim e que não tenho dúvidas: eu conheço bem esta minha doente, incluindo várias RMN e TC cerebrais... 😀
Só para terminar lembro que nestes tempos incertos em que fica bem dizer que "sex is overrated", que o sexo é sobrevalorizado, eu respondo que sim, concordo, é, mas não o amor que se pode fazer com ele.
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