domingo, 22 de janeiro de 2017

A graça da Senhora da Graça.

O que une, o que separa? Para lá do Tâmega fica Mondim de Basto. Em antigos tempos os romeiros seguiam pelo rio a partir de Amarante para depois subirem à Senhora da Graça. Aqui o rio separa distritos mas não as gentes. As terras de Basto são um conjunto em si, a Senhora da Graça mostrando a leste a parede que o Alvão forma para separar estas terras de Trás-Os-Montes. Quer a devoção quer o nome do monte (monte Farinha) têm origem lendária, ou seja, são filhos do engano. Se forem ao site da confraria a lenda mete mouros e farinha de milho, duas coisas que não coincidiram nestas terras, o milho importado das Américas só depois das Descobertas, já aí os mouros por aqui bem mortos e enterrados. Centeio seria então... A Senhora da Graça é portanto um balcão avançado que se destaca para ocidente da cadeia de montanhas que na direcção norte-sul defende o nosso interior dos ventos oceânicos. Roça os mil metros. Subir uma destas rampas deve fazer-se com uma garrafa de águas ao lado. Quando começa a subir a sério a garrafinha começa a fazer uns barulhitos, aflita... 

Serve esta Senhora como todas as outras Senhoras da Graça como figura de intercessão. Engraçado o nosso povo, medidor atento dos mereceres de todo e cada um. Não se impede porém de, às vezes, ou anualmente com se fosse uma subscrição, pedir à Senhora uma graça, uma excepção, um favor, uma intermediação para um qualquer problema, sofrimento, nuvem negra que impede que se veja o apesar de tudo sol que todos os dias nasce. A Senhora irá então interferir e virar para nós a sorte dos dados, os que todos os dias caem e decidem. O tema da Graça foi discutido sem fim nos tempos da Reforma. Os nossos romeiros não têm tempo para bizantinices. Arrancam de noite e ao fim de dezenas de quilómetros e muita subida - vidé a Volta a Portugal - pedem à Senhora, comem, celebram e vão-se embora desafogados.












Para oeste montanhas algo mais baixas separam as terras de Basto do resto do Minho. Para norte vê-se o Barroso. Almocei no restaurante que fica logo abaixo do santuário - este uma espécie de gruta em pedra mas feita-para-fora - e comi umas fêbras acompanhadas com batatas fritas feitas na hora, como a minha mãe fazia - e ainda faria se eu lhas pedisse. A descida, depois, como a subida, foi feita com cuidado, zonas do asfalto completamente cobertas de geada eram mais do que muitas. 

Na volta desviei-me e passei pelo Arco de Baúlhe e pelo Restaurante Caneiro. Não era aqui que paravam as antigas carreiras para Chaves? 

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