sábado, 2 de janeiro de 2016

Jogar o Monopólio.

O jogo do Monopólio é uma invenção americana. Nasceu curiosamente para provar, pelo que percebi, a injustiça da propriedade privada dos bens da natureza, na primeira década do século XX. Chamava-se "The Landlord's Game" e alinhava pelas ideias de um economista hoje esquecido, Henry George, servindo como ilustração. O jogo era grosseiramente como hoje é. A ilustração da injustiça que é o cerne do jogo tornou o jogo paradoxalmente popular. E hoje entende-se, ao contrário da ideia original, o Monopólio como uma iniciação infanto-juvenil ao capitalismo selvagem.
É muito eficaz a fazê-lo.


A injustiça do jogo é relativa e aleatória: no começo todos têm o mesmo dinheiro. As regras são iguais para todos. Como alguns filmes que já sabemos terminar mal, o Monopólio é difícil de levar a partir do momento que um jogador toma conta de um número muito elevado de propriedades, começa a construir e a partir daí taxar todos que passam pelos seus terrenos. A partir daqui o jogo pode ser cruel. Como diz a minha mãe: "É um jogo: não há solidariedade!" O objectivo é, confessadamente, levar os demais à falência. O Monopólio é, enfim, o objectivo último. E é um prazer maldoso. 

Claro que o Monopólio permite que, porque sempre se recomeça do zero, o prazer e a dor sejam alternados. Hoje tu destróis, amanhã destruo-te eu. Muito ocasionalmente, havendo bastantes jogadores, criam-se alianças para equilibrar os pratos da balança e o jogo pode ganhar cambiantes melodramáticos menos unilaterais. 

O Monopólio pode também fornecer a ilusão aos jovens que o jogam de que, na vida real lá fora, na Economia e nas Finanças reais, também se começa sempre do zero e que o desequilíbrio dos pratos alterna. Até parece que o Capitalismo é uma história de heróis. Sabemos que não é assim. O dinheiro tem uma história e há sempre quem comece com um grande avanço. E amanhã não é um novo jogo: é o mesmo jogo de hoje, com vinte quatro horas em cima de taxas a correr... e por aí adiante, até ao previsível final.




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