Quinta-feira Santa foi um dia de trabalho atípico. Porque adiadas tinham sido, consultas houve e imensas de manhã. Depois subi para a Unidade. CHUP'ei com uma doente que me deu bastante que fazer. Obrigado pela ajuda, Flores e Gonçalo. Saí - o que não é costume - pelas vinte e trinta. Porque os tempos são pascais e tinha havido consulta carregava comigo um computador, dois coelhos, e tupperwares que sobravam da minha recente conversão ao clube das ditas. À minha frente, no acesso ao corredor para o parque de estacionamento da Faculdade, bateu uma porta. Que só abre com cartão, um cartão que repousava dentro do meu carro, que residia para lá da porta que acabara de fechar-se. Hummmmm... Ficar à espera de que um gracioso por ali passassse e abrisse a dita porta? Nem pensar. Carregado com vitualhas e afins, readquiri o meu passo dinâmico e decidi sair do meu Hospital e entrar na Faculdade "por cima". Há aquela saída que parece Santa Apolónia e por aí saímos. A lanchonete que frequento ainda estava aberta. Rodei já fora para a direita, Psiquiatria (a minha segunda casa), o viaduto que une a garagem do Hospital à zona mortuária, a porta que dava acesso ao bar da Faculdade estava também fechada. Comecei a pensar que passadas as 20h tudo estaria fechado... Rodeei as antigas instalações da Psicologia - Dr. Freitas Gomes, como estamos? - cruzei a porta de entrada para os pavilhões da consulta - também fechada, lá dentro, algumas mulheres terminAvam de limpar - e, finalmente, consegui sair da prisão rectangular em que o meu Hospital parecia ter-se tornado para ir depositar os pesos num cacifo do Campus, o tal centro comercial clandestino que por ali se mantém. Agora o carro... Resolvi manter a bata vestida, se ia praticar alguma outra caminhada por percursos estranhos, a bata de médico poderia sempre justificar o que fosse - saltar um muro, arrombar uma porta! Segui pelo passeio da rua Plácido da Costa chamando a atenção dos sonolentos taxistas por ali estacionados. Mantinha identificador e estetoscópio ao pescoço. A garagem da Faculdade emerge numa rampa com porta de correr lá no fundo, que também se encontrava fechada. Tão menos humilhante teria sido esperar no calor do corredor hospitalar do que no meio da rua que o acesso à garagem me fosse permitido... E o tempo tinha passado, as mudanças de turno também, quem restava para sair? Decidi cortar caminho pela frente da Faculdade para reentrar no Hospital e pedir a alguém - estarrecido - de serviço no SU um cartão de acesso. Olhei para dentro da Faculdade, ainda iluminada. Alguém acendia o alarme, saía por uma porta invisível. Segurança? Professor? Investigador? Alienígena? Subitamente este personagem misterioso emerge por trás de uma coluna. Assalto-o, explico-me, a bata como palavra-passe. "Compreendido!", responde-me, neutro. Abre-me a porta invisível. Estava dentro, estava dentro. "Boa Páscoa!", desejei-lhe!
E, já agora, a todos vocês!
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