sábado, 29 de abril de 2017

Cracóvia - dia um.

Começo por confessar que me enganei. O primeiro jantar em Cracóvia foi num restaurante italiano mas não numa cave, sim num primeiro andar. Calhou ser a sala pequena e estar sentada na mesa ao lado uma família portuguesa. Nem de propósito. Pai, mãe, rapaz mais velho, rapariga novinha. Esta estaria subfebril, dizia-se. A seguir o programa de visitas - auto-caravana? viatura própria? - apertado, enunciado pela mãe. Depois as coisas começaram a complicar-se. O tema era... enfim, não sei como dizê-lo... o pai teria tido... muitos gases... não caracterizáveis como inodoros... e este facto da vida, aumentado à lupa pelo facto da nossa família portuguesa assumir que ninguém os entendia, deu uma boa meia hora de galhofa familiar. Como criticar? Não foi fácil conter a minha companhia, exultante com a temática. O perigo era muito. Cedeu finalmente o assunto. Porque veio a conta. "Que cara!" - comentaram. E cada item foi analisado. O rapaz criticou - "vocês pedem uma garrafa de vinho de 70 zlotys!". A mãe defendeu-se: "Filho, estamos de férias!". Enquanto saiam o vinho, cuja garrafa apenas meio bebida ficava para trás, ainda era motivo de conversa. Era uma família portuguesa com toda a certeza...

Portanto só agora me dedico ao primeiro acordar em Cracóvia. Benditos cortinados... Um  correcto pequeno-almoço hoteleiro provocou-me logo saudades da informalidade de Varsóvia. Porém... 

Saímos à procura do bairro judaico de Kasimierz, que fica não longe para sudeste, imediatamente antes do rio Vístula - exactamente, o mesmo rio banha as duas principais cidades da Polónia. Kasimiersz dividia-se na realidade numa parte ocidental católica e uma parte oriental judaica. Percebe-se que o bairro está apenas meio recuperado, e que as casas eram variáveis e variadas na sua qualidade. Visitámos o Museu da História dos Judeus na Galícia. A Galícia era a parte polaca do Império Austro-Húngaro e correspondia aos 2/3 para leste do sul da actual Polónia (a Silésia era alemã) mais um naco importante que hoje é Ucrânia, incluindo a actual Lviv. Centenas de milhares de judeus viviam aqui, possívelmente a maior concentração de judeus na Europa antes do Holocausto acontecer. O museu é um esforço particular de meia dúzia de pessoas e sobretudo de uns poucos de fotógrafos que procuram recuperar a memória de uma presença judaica num espaço e num tempo que se perdeu este, e que foi quase completamente arrasado aquele. Exposição que impressiona. 
Almoçámos bem na praça central do bairro judeu. Meia dúzia de restaurantes anunciavam a devida comida kosher, escolhemos um, o rapaz que nos convidou à entrada era simpático.Já agora chuviscava e fazia frio. No bairro foram recuperadas várias sinagogas. Visitámos uma e o cemitério. Infelizmente lembrei-me de Israel. Existem várias explicações na net sobre a razão para os telhados metálicos das lápides judaicas serem cobertas com pedrinhas. Depois fomos recuperar algum calor ao hotel.

Lanchámos num simpático sítio italiano, mais um. Na praça central da Cidade Velha acontecia uma qualquer representação teatral num palco com padres e militares e muitas bandeiras polacas. Havia por ali muita gente. Mantinha-se o frio e o chuvisco. Fomos até à barbacã que fecha a Cidade Velha a norte - o único resto da muralha que subsiste e depois jantámos no tal italiano numa cave. 

No italiano numa cave atrás de nós um casal intercambiava piropos. A minha companhia estava fascinada com o jogo. Foram considerados muito bonitos os dois, como que de cinema. Discordei. As falas as habituais, o objectivo conhecido. Não, ali o amor não acontecia.

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