Para quem não entenda logo o que eu quero dizer e venha por aqui à procura de algum novo apócrifo eu explico: fui terça-feira passada ver o Caetano ao Coliseu. Não vou muito falar do espectáculo, porque já não tenho idade para avançar banalidades. Foi muito bom. Caetano, para além de compositor e intérprete das suas canções - e leva cinquenta anos disso - fez muitas canções para outros e outras, algumas das quais foi buscar para este espectáculo. Caetano é garoto há 74 anos, filho de Dona Canô, que morreu aos 105. Foi preciso o Currucucu Paloma para nos apercebermos de como Caetano é um óptimo intérprete? A idade soltou-o das amarras que nunca teve, exilado, nunca consensuado, insultado às vezes pelo Rio cansado da ditadura baiana na MPB. Por isso ele canta "Love For Sale" de Cole Porter e "Como Dois e Dois" que escreveu para Roberto Carlos. E termina com "Qualquer Coisa", um explicativo. Porque quando chegamos à essência do que é ser Caetano ele já está para lá de Marraquexe.
E sim, eu que ateu me confesso, as letras de Caetano, coligidas e por mim mentalmente anotadas, são como que um Evangelho onde volto e volto e volto. O mais volumoso, o mais certo. Não infalível, porque isso não há, nem na escrita nem na vida. Caetano algumas vezes lavou a sua roupa suja heterossexual nas canções que publicou, zangado com elas, uma de cada vez. Não gostei, perdoo, salto a página. Caetano é um garoto de 74 anos, um menino não do Rio - outra linda canção - mas de S.Salvador, obrigado Caetano, salvaste-me mais do que uma vez.
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