sexta-feira, 21 de abril de 2017

Stuart Bingham.


Só gosto dos desportos que não domino. Não vou falar do futebol - sim, dois pés direitos, sendo eu canhoto de origem. Considero o ciclismo o mais nobre dos esforços, a mais cruel das aventuras, o mais injusto dos mundos. Dele não me canso. Passo os dias a ver a beleza do mundo verde que se chama snooker. 
Já quase destrui um pano verde daqueles. Amigos meus mais capacitados sugeriram-me que não repetisse. Estou neste momento a ver Stuart Bingham na segunda ronda do Campeonato do Mundo a bater-se jogo a jogo com um rapaz em ascensão, parece que se chama Wilson. Stuart Bingham tem quarenta anos. Leva mais de vinte anos de profissional. Ganhou o primeiro torneio de monta só em 2011. Pacato, bom rapaz, pesadão e sapudo de cara, correcto até mais não. É exactamente o oposto do Ronnie the Rocket Williams, que comete faltas, mostra o dedo, joga de meias, queixa-se de tudo e de todos, enquanto empurra o jogo para a frente e apela às multidões. O snooker avançou com o Rocket mas avança também com Stuart Bingham, Campeão do Mundo em 2015 com o mais suave e perfeito dos jogos, eu vi - eliminou o Rocket nos quartos-de-final e o chato do Judd Trump nas meias, Bingham não pára de jogar, é um trabalhador, não uma estrela. Não regateia torneios. Quando foi campeão perguntaram-lhe: "E agora?" "Vou oferecer uma carro novo à esposa - disse - o Astra está um pouco visto. E hoje à noite fico com os miúdos, porque ela trabalha. Não é frequente eu ficar com eles." Fora do jogo e da família não há menino. Para melhorar o jogo procurou discretamente o melhor treinador e também pratica uma espécie de zen online chamado ZingUp. Estás a rir? Já foste Campeão do Mundo de quê, caralho?

Só gosto dos desportos que não domino. A verdade mesmo é que não domino nenhum...

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