"- Achou a viagem cansativa? - perguntou numa voz que o surpreendeu pela naturalidade; e ela respondeu que, pelo contrário, raras vezes viajara com menos desconforto.
- Excepto, sabe, o calor horrível no comboio - acrescentou. E ele respondeu que não ia sofrer com esse problema no país para onde ia.
- Eu nunca - declarou com intensidade - tive mais frio do que uma vez, em Abril, no combioi entre Calais e Paris.
Ela disse que não se admirava, mas comentou que sempre se podia levar mais um cobertor e que todas as formas de viajar tinham os seus problemas, ao que ele respondeu abruptamente que esses nada eram comparados à benção de partir. Ela mudou de cor e ele acrescentou, com a voz a subir repentinamente de tom:
- Eu também penso viajar bastante em breve. - Um tremor cruzou-lhe o rosto e, inclinando-se para Reggie Chivers, gritou: - Ouça, Reggie, que me diz a uma volta ao mundo agora, no mês que vem, quero dizer? Estou pronto, se você quiser - ao que Mrs. Reggie exclamou que não podia deixar Reggie partir até ao baile de Martha Washington, que estava a preparar para o Asilo de Cegos na semana da Páscoa; e o marido observou placidamente que nessa altura teria de estar a praticar para o desafio internacional de Pólo.
Mas Mr. Selfridge Merry apanhara a frase "à volta do mundo" e como a fizera uma vez no seu iate a vapor, aproveitou a oportunidade para pôr na mesa algumas ideias importantes sobre os baixios dos portos mediterrânicos."
extracto de "A Idade da Inocência", de Edith Warthon.
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Deixei ontem correr o DVD do filme do Scorcese que recria o livro acima. Pela primeira vez não lhe prestei atenção nenhuma.
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