terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

CPC e o riso.

Devo muito à Clara. Pinto Correia, explique-se. Procurei neste corropio de textos e blogues que me cercam uma qualquer referência a uma história que me persegue desde a eternidade e não encontrei. E a história, contada pelo Eduardo Prado Coelho (EPC), rezava assim:
Era no tempo de não haver auto-estrada para o Algarve. Os lisboetas especializavam-se em idas e vindas complicadas, conflituosas, e que implicavam com frequência, à volta, filas quilométricas, filas terríveis. Contava o EPC que uma vez, imerso numa dessas filas quilométricas, o calor do verão a obrigar à abertura de tudo o que se pudesse abrir nos carros - há 25 anos os ares condicionados não eram o que hoje são - ele começou a ouvir risos e gargalhadas sem fim que tinham origem num carro poucos lugares atrás. Eram a Clara Pinto Correia e o António Mega Ferreira, então namorados. A partir desde encontro de sons no meio do calor da península de Setúbal, quem volta, fazia o EPC considerações várias sobre a felicidade possível num momento puro, que os haverá e acontecerão, até parados no trânsito e entre a Marateca e Palmela. Lembro-me de ter lido isto, novo como era então por fora e ainda mais por dentro, e ter sonhado para mim esta capacidade de dominar o mundo através do riso e da felicidade explosiva que pode, ah pois pode, acontecer entre duas pessoas.
Esta história tem viajado comigo e ainda aqui está. Morreu o EPC e toda esta beautiful people - do início dos noventa - levou caminho, chamemos-lhe, menos bom. A Clara há trinta anos escrevia muito bem, não sei o que terá acontecido dessa sua capacidade. Tinha uma boca incerta, triangular, e aqui vou parar o texto, por decoro. Vi-a pela última vez num infeliz programa televisivo onde ela ilustrava em abundância o que é ter, como ela própria confessava, "dois pés esquerdos". "Ainda acertas, Clara?", pensei - eu que também padeço do mesmo mal...
Portanto, preocupo-me com a Clara Pinto Correia, como me preocupo com todas as pessoas a quem devo alguma coisa, e neste caso até um pouco mais. 
Quanto ao riso e a ainda busca desses puros momentos, estamos nisso.

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