terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Três Filmes in Time of Oscartime!

Vi recentemente La La Land, Manchester By The Sea e Moonlight. Qualquer destas viagens até à cadeira de um cinema não foi em vão. Por razões diferentes em cada um dos casos. E não. Hoje já não é bem assim, mas antigamente chegava-se à cadeira de realizador por um de dois caminhos, o primeiro pelo caminho da montagem, e tínhamos um realizador que privilegiava o lado plástico da coisa, o segundo pelo caminho do argumento, e tínhamos um realizador que era melhor contador de histórias. Sim, ele há filmes que contam histórias. A maioria, aliás.

La La Land é um triunfo da cor. Os actores estão mesmo bem: Emma Stone talvez leve a estatueta para casa. Gosling precisava que o despenteassem. Aqui inventa-se nada. Qualquer cena ou número de dança já foi feito algures na história do musical feito em Hollywood. Sabe muito bem também porque temos pouca memória. Onde portanto a vitória deste filme? Em como acaba: nem mal nem bem, com um piscar de olhos. Há uma invenção de uma realidade alternativa durante uns minutos que até quase nos confunde mas... e o século XXI  ganha um filme que vai ficar.

Manchester By The Sea é, para mim, o melhor filme dos três. E Casey Affleck devia levar a estátua para casa. Há três coisas especiais neste filme, minto, quatro. A primeira já mencionei, Casey Affleck. A sua capacidade para nos mostrar hora e meia de um desespero que não é tranquilo é brilhante. Aquele homem está morto por dentro e assim vai continuar. Mas sobrevive, que é a maior condenação. O filme começa num barco onde a personagem de Casey pergunta ao sobrinho "se fosses para uma ilha deserta quem levarias, o teu pai ou o teu responsável tio?". A personagem de Casey é responsável e como! Há ainda o sobrinho representado pelo fantástico Lucas Hedges, o pequeno papel de Michelle Williams - onde uma só cena valeria um qualquer prémio se prémios houvesse para... cenas, e o fim. O filme acaba nem mal nem bem. Casey continua morto. Lucas vivo. Mas a vida prossegue um bocadinho melhor, parece-me, em Manchester-by-the-Sea, cidade do estado de Massachussets que realmente existe e onde se filmou também em 1990 o filme Mermaids, de que eu gosto muito, com a Cher.



Moonlight é um filme sobre como pode um rapaz homossexual crescer no habitual bairro deprimido afro-americano. Barry Jenkins dirige um filme com uma qualidade de imagem superior, uma montagem supina. O filme cheira a alternativo por todos os lados. Barry Jenkins é, porém, também o autor do argumento. E este nem sempre consegue sobreviver à apresentação sequencial dos arquétipos de um filme de bairro afro-americano - aliás todos os arquétipos vão aparecer. O filme, porém, vai espantando-nos com a sua beleza e vamos perdoando as sucessivas facilidades, os quase deslizes. Qualquer filme, repito, qualquer filme, está bem se bem termina. E assim Moonlight, onde o protagonista principal finalmente chega a algum lado, chamemo-lhe casa, porque um lado existe para que o outro lado haja e esteja ali também. Gostei, claro. Prémio para a melhor cinematografia.



PS.: desacompanhado, duvido se irei ver Silêncio, de Scorcese. Tenho muitas dúvidas a priori sobre o sucesso do filme. A Scorcese devo muitos favores, muitos mesmo. A religião sempre foi para Scorcese uma praia encapelada, vidé A Última Tentação de Cristo. Gostaria antes (no sentido de ver os dois filmes mas este antes) de ver o filme "Os Olhos da Ásia" que o João Mário Grilo filmou sobre mais ou menos a mesma história. Não me parece que vá conseguir esta coisa nem que vá acontecer a outra. 

Hey, tudo bem. Peace.

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