Dois filmes marcantes de 2016 retratam duas mulheres acorrentadas a vidas nulas por exercerem com oh tão suprema eficiência trabalhos executivos nesta nossa admirável nova sociedade. Em Elle Isabelle Huppert dirige uma empresa que produz videojogos. Em Toni Erdmannn Sandra Hüller é uma executiva intermédia de uma empresa alemã que está a "colonizar" a Roménia (a piada: o que visitar em Bucareste? O palácio de Ceausescu!).
Ora bem: Elle é realizado por Paul Verhoeven, um homem. Toni Erdmann é realizado por uma mulher, Maren Ade. Será a visão de Maren Ade mais... justa? Certa? Elle é, lembro, um filme sexualmente durito: começa com uma violação. A personagem de Isabelle Huppert acaba por utilizar a violência sexual como catarse de saída para uma vida sem saída. A personagem de Sandra Hüller é outra história. Não está nem aí. A catarse não há, há sim uma importante correcção de rota, porque ainda há pais que se mascaram para (re)encantar as filhas. E o sexo que aparece é tristemente encarnado pelo namorado de triste figura que não-há-quem-lhe-dê-um-tiro de tão triste que é, tão abaixo da mais baixa raça canina.
Elle é um romance negro. Toni Erdmann é uma bonita história. Talvez Maren Ade curiosamente ande mais perto do que pode ser uma boa saída para esta crise que vivemos.
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