terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Cristo está vivo e tem 91 anos.

Sempre me pareceu estranho que as estimativas sobre o ano de nascimento de Cristo fossem entre 4 e 6... Antes de Cristo. Parecia-me uma contradicão - e é! Se nos enganámos e falhámos as contas, pondo o ano "Zero" atrasado... quatro anos ou mais, não devíamos corrigir a contabilidade? Estarmos agora no ano 2016 "Depois de Cristo" é... um engano! Sería mais correcto 2020 ou 2021 ou 2022. Enfim... dilemas e mais dilemas.

Hoje vi na minha consulta um homem de 91 que dá pelo nome de Cristo. Pensei perguntar-lhe pela questão supra. Não me pareceu qualificado para responder. Nem preocupado. Cristo sobreviveu a um pequeno Acidente Vascular Cerebral. Vive sózinho e assim prefere. Não é homem para buscar companhia ou discípulos, com ou sem redes de pesca. Descreveu-me as suas rotinas, quando sai de casa, vai ao café, ao quintal, os trabalhos que faz. Tem uma doença respiratória crónica com uma gravidade moderada, não sei se causada pelos ventos do deserto, se de alguns anos a fumar cigarros. Cristo vive com medo da sua falta de ar. Auscultei-o. Gostaria que o meu pai, dois anos mais novo, tivesse a sua  auscultação. Mas Cristo tem mais dois anos e tem medo. Da noite, do entupimento dos brônquios, da garganta, do nariz. Gostaria de um internamento rápido para fazer aqueles vapores tão mais eficazes que há no hospital. Ou pelo menos vir fazê-los ao hospital cada quinze dias, para limpar as vias, o nariz. Cristo explicou-me com os dedos graficamente como faz para limpar os carranhos - ranhos do ca...? - os braços agitavam-se, Cristo sentava-se e levantava-se, "sem quaisquer sinais de insuficiência respiratória", e cito registos alheios. Cristo gesticula e afasta os fantasmas da noite e da asfixia. Ele não sabe que eles não estarão afinal assim tão perto, ao contrário do fantasma da longevidade, crédito que sempre se acaba por pagar. Cristo, primeiro nome Manuel, sabe que "quem não chora não mama", ele não chora mas faz o seu barulho, o seu protesto, que para ele é como uma obrigação. Dois anos mais novo, o meu pai, Manuel também de seu primeiro nome, vive em expiracão prolongada e, aparentemente, sem medo. E isto preocupa-me.

Se este Cristo que eu auscultei fosse Aquele que decidiu a nossa contabilidade de - enganados - 2016 anos, em 91 anos teríamos então compactados dois milénios e uns trocos e o Império Romano teria sido ontem. Há dois mil anos a Síria tinha sido conquistada, poucas décadas antes, por Pompeu. Lembrei-me disso ao visionar as filmagens do cerco e bombardeamento de Aleppo pela coligação Putin-Assad. Sim, passou muito pouco tempo, na realidade.  . 

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