quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

G. K. Chesterton - extracto de "Tremendas Trivialidades".

"Se os ceifeiros cantam ao ceifar, porque é que os contabilistas não haverão de cantar ao contabilizar, e os banqueiros ao realizarem o seu comércio bancário? Se há cânticos diferentes para cada uma das coisas que se fazem num barco, porque é que não há cânticos diferentes para cada uma das coisas que se fazem num banco? Enquanto o comboio voava através dos jardins de Kent, tentei escrever umas cantigas apropriadas a cavalheiros comerciantes. Desse modo, a tarefa dos bancários de calcular colunas de números poderia comecar com um coro ribombante em louvor da Adicão Simples:

(...)

E de seguida, naturalmente, necessitaríamos de outra cantiga para os tempos de crise financeira e de coragem, uma cantiga de métrica mais feroz e mais assustadora, como o galopar de cavalos na noite:

(...)

E, à medida que me aproximava da nuvem de Londres, encontrei um amigo  que trabalha efectivamente num banco, e mostrei-lhe estas sugestões em rima para uso entre os seus colegas. Mas ele não se mostrou particularmente entusiasmado sobre o assunto. Não era que (assegurou-me) considerasse os meus versos inferiores, ou que de algum modo lamentasse a minha falta de mestria. Não: era antes devido, assim o sentia, a algo indefinível na própria atmosfera da sociedade em que vivemos, que faz com que seja espiritualmente difícil cantar em bancos. E parece-me que ele deve ter razão, apesar de o assunto ser muito misterioso. Posso observar, neste ponto, que deve haver algum erro nos cálculos dos socialistas. Responsabilizam, pelas nossas dificuldades, não o nível moral, mas o caos da iniciativa privada. Pois bem, os bancos são privados; mas as estacões de correio são socialistas; em consequência, eu, naturalmente, esperaria que numa estação de correios incorreria a ideia colectivista de coro. Julguem a minha surpresa quando a senhora adstrita à estação de correios do meu distrito (e a quem incitei a cantar) rejeitou a ideia com muito mais frieza do que a mostrada pelo meu amigo bancário! Ela de facto parecia estar num estado de depressão consideravelmente maior do que ele. Acaso alguém suponha que tal derivava do efeito causado pelos próprios versos, é bom referir que se destinavam a ser o hino da estacão de correios estes versos que diziam assim:

(...)

Quanto mais pensava sobre o assunto, mais dolorosa se tornava a certeza de que as coisas modernas mais típicas e importantes não podem ser levadas a cabo com um coro. Não se pode, por exemplo, ser um grande financeiro e cantar, porque a essência do grande financeiro consiste em estar calado."






"Os bancários estão desprovidos de cánticos, não porque sejam pobres, mas porque estão tristes."

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