"- Como é que os vossos pais se salvaram do dilúvio?
- Havia entre as pessoas do poente, que então viviam pastoreando grandes manadas de cavalos de crina prateada e pêlo cor de mel, um homem e uma mulher cujas almas transbordavam de inocência, como de crianças na véspera de dizerem a primeira palavra ou de darem o primeiro passo. Desde a criação ainda não tinha chegado nenhum tordo à ilha até aquela manhã. A sua inocência permitia-lhes ouvir pássaros a sete léguas de distância. Cada um foi por seu caminho para ver num ramo de cameleira aquele novo e feliz trovador. Deram-se as mãos para ouvi-lo ao meio-dia, porque assim o pediu a ave, e cantou-lhes uma soledad, e depois pediu-lhes que entre os dois abraçassem a árvore e cantou-lhes uma vidalita, e tão belo era o canto, e posso dizer-te que os enfeitiçava, que não repararam que começara a chover. A ilha inclinou-se para estibordo e toda a gente que a povoava caiu ao mar, menos o homem e a mulher inocentes que estiveram abraçados à cameleira os quarenta dias e as quarenta noites do dilúvio. A ilha elevou-se sobre as águas os côvados suficientes para que pudessem passar por debaixo dela Leviatã e as outras baleias.
- E casaram e tiveram filhos?"
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