Trabalhei de noite. Não muito, confesso. O suficiente porém para necessitar reparação adicional em casa. Saí à rua agora mesmo para fazer umas poucas compras, buracos na rede de cuidados que é ter umas coisas em casa para a sobrevida. Na rua havia música e as pessoas estranhamente falavam umas com as outras. Numa esplanada uma jovem rapariga baloiçava-se repetindo talvez uma situação havida para as amigas e desfazia-se numa gargalhada forte, grave, que assustava. Guardanapos, café, shampô; iogurtes, leite, pasta dentífrica. Demorei-me a estudar os snacks que agora fazem com fruta, "100% nacional", a empresa chama-se "Frutea" e a sede é aqui na Invicta. Sim, quero um saco, dou o contribuinte e pago em dinheiro. O shampô tinha ficado atrasado no tapete e fora englobado pelos pães do próximo cliente: "é o shampô, também...". O pão, pelo que ouvi era o único e mais nenhum servia. Quatro da tarde. "Amanhecer"...
Volto a subir no elevador e duas funcionárias de uma empresa - de limpeza? cuidadoras? - comigo sobem para o quatro; "e depois no caso de morte, ficam-lhe com tudo, casa, tudo!". "Boa tarde!" - desejámo-nos mutuamente, para no caso de morte não nos voltarmos a ver e ficarem-nos com tudo.
Na realidade as pessoas dividem-se em dois grupos, as que fazem noites e...
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