Berlim Leste tinha mantido viva Alexander Platz. Pelo contrário a Potsdamer Platz, o outro grande centro da Berlim dos anos trinta, era um quase descampado em Berlim Oeste, roçando o Muro. No filme "As Asas Do Desejo" há um velho que procura a Potsdamer Platz numa terra-de-ninguém. Mas o Muro caiu. E vinte e cinco anos depois Potsdamer Platz é a prova provada de que os alemães não brincam em serviço. Os arranha-céus aqui arranham mesmo, e o Sony Center é o centro da deslumbração. Os euros da Potsdamer Platz possivelmente devem valer mais do que os meus. Pelo menos serão muitos mais. Da velha Potsdamer Platz não restava nada. Da ausência da Potsdamer Platz também não a não ser meia dúzia de placas de cimento ao alto grafitadas do mesmo, que aparentemente não terão sido removidas do sítio original, e que servem para a fotografia da praxe... que não fiz.
Caminhámos para norte pela Ebertstrasse, com o Tiergarten à esquerda até chegarmos ao Memorial do Holocausto, onde começa a Hannah Arendt Strasse. Do Memorial do Holocausto que posso eu dizer? Que é perturbador. Que é insuficiente. Que até me parece pequeno. Que é muito belo. Que tem crianças por ali a jogar às escondidas, numa espécie de justiça poética.
Pouco depois e seguindo para norte eis-nos na Porta de Bradenburgo. A leste desta fica a Praça de Paris e termina a Unter Den Linden (linden = tílias) que liga ao leste da cidade e antigamente ligava ao palácio dos Reis da Prússia, o tal Schlosser que está hoje em reconstrução. A zona da Porta de Bradenburgo é uma zona de bancos e embaixadas. Antes da queda do Muro estava inacessível. É curioso o nome da praça em frente, quando a Porta de Bradenburgo parece "dialogar" com o Arco Do Triunfo na sua lógica. O Arco Do Triunfo foi porém construido depois...
A Porta de Bradenburgo abre o caminho para o Tiergarten mas nós insistimos no caminho para norte e aparecemos à porta do Reichstag. Hoje era mesmo o Dia da Visita da Reconstrução Alemã. O Reichstag - o Palácio de S.Bento alemão - ardera em 1933 (incêndio promovido por comunistas?) e nunca mais fora usado. O seu incêndio facilitou em muito a consolidação do poder de Hitler em 1933. Reconstruido depois da queda do Muro, adicionaram-lhe uma cúpula transparente, metáfora para o transparente novo poder federal alemão do século XXI, e é um must nas visitas a Berlim, curiosamente acho que sobretudo por... alemães. Não fomos... e prosseguimos ainda mais para norte. Até ao Spree e dos dois lados do mesmo sucedem-se edifícios oficiais de desenho moderno. Atravessámos o Spree e dirigimo-nos até à Hauptbahnhof, uma enorme estação de combios em cujo centro comercial havia um Mac.
Bom. A propósito de uma ida falhada anteontem a Serralves mencionei Joseph Beuys. Este senhor terá sido o artista plástico europeu mais influente no terceiro quartel do século XX. E referi o seu chapéu - que era a imagem de marca deste artista conceptual. Cujos conceitos, confesso, nem sempre me foram claros. Não que também lhes tenha dedicado meses ou anos de estudo. Pedagogo e performer, as suas aulas eram livres - entrava qualquer um e qualquer tema, acontecia de tudo. Só exigia pontualidade. As suas obras considerava-as o que "sobrava" das suas aulas.
Saindo da Hauptbahnhof para a Invalidenstrasse fomos à procura de outra estação de comboios, esta antiga e agora um museu, a Hamburger Bahnhof. Nela uma exposição de arte contemporânea que girava à volta da reconstrução de uma celebrada instalação de Beuys, que ocupava a última sala. Após o que se seguiam algumas salas com algumas "esculturas" de Beuys rodeadas por quadros pretos alusivos a sua vocação professoral. Well... it was a bit too much. Eram dezenas de obras de todas as formas e feitios, apresentadas num espaço um pouco curto, com um acotovelar de mensagens que não dava tempo para respirar. E tudo muito século XX, com uma imagem enorme do camarada Mao a reger o espaço. A sala final (a de Beuys) era a reconstrução da desconstrução de variados objectos cuja dita subia pelas paredes acima. Talvez este excesso de "informação" também fosse um objectivo em si da exposição...
O cansaço era duplo: intelectual e físico - tinhamos caminhado bastante. Decidu-se então viajar de metro bem para oeste até à Kurfürstendamm. Esta é a rua comercial mais importante de Berlim Oeste e nela reside a igreja de Berlim que eu tinha mais curiosidade de conhecer: a Kaiser Wilhelm Memorial Church. Semi-destruida na 2ª Grande Guerra, foi mantida assim, escorada, marcas de balas nas paredes, e ao lado cresceram dois paralelepípedos de vidro e cimento, com uns fantásticos vitrais azuis dentro. Entrei e não queria sair.
Seguimos pela Tauentzienstrasse, fotografámos a escultura "Berlin" (dois anéis que não se fecham) e entrámos no KaDeWe - Kaufhaus des Westens - um mega Corte Inglês.
Regressámos de metro à Potsdamer Platz e jantámos num simpático Vapiano - uma cadeia de comida italiana muito interessante e não muito cara. Saímos porém uma estação antes - e passeámos no Tilla-Durieux Park, uma "estrutura"/alameda engraçada que ora elevava para um lado ora para o outro...
Berlim...
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