terça-feira, 18 de outubro de 2016

Mas é um edifício bonito e com vista para um rio - achegas para um programa de televisão.

Vi ontem 5 minutos de um Prós e Contras. O tema era o Cancro da Mama e se havia igualdade de cuidados para todas as doentes em Portugal. Cinco minutos chegaram.
 
O programa Prós e Contras no geral é um mau programa. Já vi outros... Os temas são mal apresentados, avaliados, discutidos. Mas não é sempre assim na televisão? Acresce que a apresentadora, Fátima Campos Ferreira, costuma ser PARCIAL. Como ontem me pareceu que estava a ser. A RTP devia fazer melhor. e no entanto creio que acha que este é um dos seus melhores programas!
 
Os cuidados aplicados ao Cancro da Mama são possivelmente desiguais no interior vs no litoral. Isto aplica-se porém não só ao Cancro da Mama mas também a uma plétora de patologias, incluindo muito possivelmente aquela a que eu hoje me dedico, o Acidente Vascular Cerebral. Este sim que seria um debate interessante e transversal e que afecta 15-20% da população portuguesa. E que reflecte como um País se projecta no futuro como um Todo.
 
Muito se falou de equipas pluridisciplinares. Que eu saiba, há mais de vinte anos que o grosso das doentes com Cancro da Mama são orientadas e tratadas por equipas pluridisciplinares. Ponto final, parágrafo. As excepções possivelmente reportam-se ao interior, mais uma vez - mas também sei que os Hospitais mais pequenos (do litoral ou do interior) que fazem Oncologia suprem este défice de quórum fazendo deslocar médicos seus às Unidades mais diferenciadas periodicamente para discutir os doentes. Desconheço se hoje existe telemedicina nisto envolvida. Assisti à presença de médicos exteriores ao IPO do Porto a apresentar doentes em Consulta de Grupo no IPO do Porto em 95. As linhas de tratamento, as chamadas guidelines, não são decididas nessas consultas pluridisciplinares, antes internacionalmente e são acessíveis na Internet. A sua aplicação implica porém saberes vários e é aqui que as várias cabeças se podem complementar e completar. Para além de que rever um doente pode sempre ser melhor do que apenas ver.
 
As acreditações são muito importantes mas não são tudo. A minha acreditação, a minha, é uma licenciatura, uma especialidade, uma graduação, e vinte e oito anos de prática clínica, dos quais quinze na área cerebrovascular. É velha como a Medicina a desigualdade de cuidados. Eu, médico, não sou igual a ele, médico - no que diz respeito a método, capacidades, qualidades. Repito que o pluridisciplinar, a funcionar há décadas, tenta também obviar a isto. Outra coisa é os meios à disposição. E aqui também o diálogo é sobretudo uma vez mais interior vs litoral.
 
Conheço bem duas Unidades de Mama, a do Hospital onde trabalho (o CHSJ) e a do IPO do Porto. Tenho absoluta confiança nas duas e nas duas já tive pessoas amigas e familiares sob tratamento. E muito bem. É de uma gravidade extrema num programa de uma televisão pública criar alarmismo social sobre especificamente o quanto bem se trata pelo país fora uma patologia específica. Os fins - que eu não quero perceber quais foram - não justificaram os meios. E o Cancro da Mama não é a Hepatite C.
 
Esclareço que conheço bem a Prof. Maria João Cardoso (mencionada no programa pelo que me foi dito) - minha colega de curso e uma óptima profissional, e cujo pai me deu aulas. E que julgo considerar-me amigo da Dra. Fátima Cardoso, também uma profissional excelente, que foi minha interna geral de primeiro ano, ou seja, começou a fazer clínica hospitalar comigo.
 
A discussão foi Champalimaud vs IPO Coimbra. Tenho gente amiga a fazer Oncologia em Trás-os-Montes. o  Dr. Miguel Barbosa, por ex. Gostaria de ter ouvido a opinião dele. Essa sim teria sido uma mais-valia fundamental. Não me pareceu que o Dr. Vitor Veloso fosse o defensor mais indicado para os trasmontanos.

Este programa não devia ter acontecido no Auditório da Fundação Champalimaud. MESMO. Porque não Guarda, Bragança... Beja?

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