quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Roma dia 2.

Roma pede e facilmente fornece alguma reflexão sobre a história europeia. Cabeça de "O Império" da história ocidental, onde os seus habitantes se identificavam como romanos, ie, cidadãos da cidade-mãe, Roma sobreviveu ao desabar ao tornar-se cabeça de um outro império, este "espiritual", o da Igreja Cristã. O bispo de Roma era e é o Papa. Sendo que o mesmo teve e tem poderes temporais, até metade do séc XIX sobre uns "Estados Pontifícios" que eram grande parte do centro-sul de Itália, e, hoje, a cidade-estado do  Vaticano. 
Roma, como civilização antiga, tornou-se mais famosa pela engenharia e pela cópia do que pela originalidade. Daí que os monumentos mais famosos de Roma-a-Imperial sejam proezas de engenharia, nomeadamente o Coliseu e o Panteão. As restantes velharias romanas, com excepção de vários arcos de triunfo, não acrescentam ao que dias depois Atenas nos iria oferecer. Roma foi há dois mil anos o que Berlim hoje é para a "chamável" "civilização da couve-de-bruxelas", vulgo União Europeia.
Mas Roma é também uma cidade italiana. A efervescência grega citadina que produziu séculos de brilho só encontrou paralelismo mil e uns quantos anos depois nas cidades italianas: Florença, Bolonha, Pisa, Génova, Siena, Verona, Pádua, Veneza, Milão. Roma também fez parte deste torvelinho, embora com brilho variável, consoante a liberdade concedida pelo Papa de turno. A "eternidade" da nomeação papal era então amenizada pela alta mortalidade das mais comezinhas doenças ou dos mais variados venenos.
 A riqueza da Roma renascentista e barroca advém do seu patrono ser o mais poderoso e mais rico da cristantade, a saber, o Papa. E, se o Papa estivesse a isso disposto, tinha fundos infindáveis para encomendar, mandar, decidir. Por isto Roma é a cidade mais monumental de Itália.

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Roma dia 2: os bilhetes para os museus do Vaticano tinham sido comprados online. Algures na minha região insular direita meti a peregrina ideia que também me davam direito também a visitar a basílica de São Pedro. Não davam.
Fixar os nomes dos arquitectos mais importantes na história de Roma é simples: 3 "B"'s - Bramante, Bernini e Borromini - e... Miguel Ângelo. Já vamos falar deles.
Calma e lentamente fomos subindo pela sombra que as árvores que, de cima, ladeavam o Tibre para chegar perto do Vaticano. Precisados de fazer poupanças, descobri um Mac perto do Vaticano, no mapa um pouco acima e à direita. Era subterrâneo e foi o primeiro Mac onde me pediram esmola. A entrada nos Museus do Vaticano foi relativamente fácil. Mas a partir daqui só posso dizer isto: DEMASIADA GENTE. SEMPRE. E DEMASIADO COMÉRCIO, SIM. Os Museus do Vaticano são uma sucessão de corredores e salas com alguma lógica temporal. Os interiores são lindíssimos mas não os encostos, os atropelos, a transpiração. E a venda dos "recuerdos" em cada corredor de passagem. Acredito que os lucros sejam para as missões em África, mas... Consegui entrever Caravaggios, Pinturicchios, perdi-me metade dos frescos de Rafael nas Rafaelle Stanze - nomeadamente a ESCOLA DE ATENAS!, enfim. Finalmente fomos empurrados para uma Capela Sistina onde dentro estariam várias centenas de pessoas, de nariz no ar, a quem foi pedido "pouco barulho" para que se inciasse uma oração, Wtf... Ah, e esqueceram-se do famoso controlo de decoro, vulgo, não-vás-de-alças-não-mostres-os-joelhos. Saí agoniado. E não percebo porque não permitem, por uns euros, claro, descer a escada helicoidal de skate.
Um único intervalo de paz acontece num pátio onde está o Cortile della Pigna, parte monumental dos edifícios do Museu, projecto de Bramante. Ao lado uma esplanada caríssima.
A Basílica não nos mereceu mais uma fila e uma desidratação. A praça de São Pedro, de Bernini, a cúpula de Miguel Ângelo, a Pietá também de Miguel Ângelo que nos esperava lá dentro, o Baldaquino de Bernini, esquece! Os Museus do Vaticano convertem qualquer um ao budismo.
Passámos pelo Castelo de Sant'Angelo, lembrete do temporal poder papal, e, mudando de país, entrámos pelo coração de Roma adentro para ver o Pantheon por dentro. A enormidade do seu interior, a simplicidade da sua geometria e da sua... lógica, conseguiram sobreviver aos turistas. É do século II dc e, segundo a Wikipédia, ainda é a maior cúpula construida pelo Homem sem qualquer reforço metálico. Ali estão enterrados o primeiro rei de Itália, Verdi, Rafael. Não há registo de futebolistas. Um que outro gladiador nas catacumbas mais antigas? 

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Voltámos a jantar em Trastevere. Segui o conselho de um site mas - quando reparei no aspecto do recomendado, como que a pedir demolição - sentámo-nos no em frente. Meia hora depois o recomendado estava cheio. Mas jantámos bem. Tivemos direito a um mágico da treta e vários grupos de músicos. O mágico repete sempre a sua ladainha "guaaaarda, una, guaaaarda, due, guaaaarda, tre!" Eu e Cata imaginámos o mágico a fazer desaparecer o Coliseu, São Pedro e depois despedir-se modestamente, "Adiiiio", com o mesmo tom de voz, explicando "sent Coliseum to another dimension, sorry, no roaming to another dimension, can't bring back, I am just a poor magiiiician...". Repetimos a piada ilusionista depois em Atenas e assim acompanhou-nos durante toda a semana. 


Aos mágicos monocórdicos de Roma o meu muito obrigado!  
  

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