Faltam minutos para terminar o período de votação nos Açores. E vou terminar o meu quarteto de ases atribuindo o Ás de Paus a... Francisco Sá Carneiro.
É difícil de explicar porque vou falar de Sá Carneiro. Talvez porque detesto Mário Soares. Talvez porque, com a minha mãe, fui PSD durante bastantes anos, sobretudo quando ainda não podia votar. Ela ainda é. As razões para uma criança escolher um partido podem ser as mais curiosas. A minha cor favorita em pequeno era o laranja. Havia um jogo que se jogava com dados e onde eu sempre escolhia o peão laranja. Por outro lado, tendo vivido o 25 de Abril com dez anos, a escolha do PSD - via a minha mãe - deve ter sido a óbvia, filho de uma família minimamente pequeno burguesa numa terra entre o Centro e o Norte. Em 75 Ovar votou PS mas o distrito de Aveiro PSD. Lembro-me bem da campanha de 76, uma campanha difícil. Fomos - a minha mãe e eu - para o Largo do chafariz esperar Sá Carneiro. A malta da UDP e do MDP não parava de mandar bocas do outro lado da rua. Sá Carneiro passou, de pé a ver-se pelo tejadilho de uma Citroen Diane... e não parou. A minha adolescência aconteceu tarde, lembro-me de me consolarem falando-me de Sá Carneiro como um homem pequenino que tinha conseguido chegar longe - Sá Carneiro media 1,64m.
Mas ainda não expliquei porque vou falar de Sá Carneiro. Ofereci á minha mãe vai para anos a biografia de Sá Carneiro, escrita por Miguel Pinheiro. Acabei de a ler há alguns meses. No seu tempo Sá Carneiro foi considerado emocionalmente instável e alguns colegas de partido chegaram a sugerir uma avaliação médica - ie, psiquiátrica - para aferir das suas qualidades para seguir à frente do partido. Sá Carneiro leva-me directamente ao cerne da discussão sobre se estamos ou não a hiper-diagnosticar doenças psiquiátricas. Quando falei dos outros ases, Copas, Espadas e Ouros, apliquei-os a histórias que eu vivi de perto e onde a doença psiquiátrica era evidente e grave. Sá Carneiro é - foi - outra guerra.
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