"Islam" quer dizer "submissão". Michel Houellebecq intitula assim o seu último livro. Tenho pena que, para além de ser um livro de tese, não seja também um livro bem escrito.
Foder ou não foder, eis a questão. François é um professor universitário como tanto outros - e eles hoje são tantos pela Europa fora... - cujo sucesso pessoal na realidade se mede - ele a mede - pelo número de fodas e orgasmos que vai conseguindo ao longo dos dias. Enquanto isto a França vive os seus últimos dias antes de umas eleições onde a decisão vai ser entre a Frente Nacional de Marine Le Pen e uma Fraternidade Muçulmana apresentada como assaz moderada e a quem todos os outros partidos franceses - UMP, PSF - entregam os seus votos, porque tudo se negoceia.
Percebe-se depois que o dinheiro árabe é o melhor para reavivar a instituição universitária. E a poligamia aplicada às alunas universitárias por casamentos arranjados uma solução para o quid deste livro: foder ou não foder. É assim que a Fraternidade Muçulmana compra François e aparentemente é/foi fácil.
Sobre a França nada chegamos a saber, pois em nenhum momento há uma ressonância escrita sobre como um islamismo soft mas muito real que se abate sobre o "hexágono" é vivido pelo peuple réel, nomeadamente pelas mulheres... A única mencionada com um mínimo de espessura, uma ex-namorada, foge para Israel - Israel, of all places, uma terra que se define vivendo em guerra... Portanto a submissão do Islão é uma boa escolha porque nos/lhe dá sexo fácil. Juvenil. E acaba o livro. QED,
Neste livro Houellebecq escreve mal, ou pelo menos é banal. Para encher fala do tempo - suponho que para exemplificar o mal de vivre de François. Suponho ainda que Houllebecq agita à nossa frente a coisa de "serei eu como François" ou "serei eu alguém que detesta François"? Ou ambas as coisas? Uma coisa eu sei: não gostei do livro.
Na contracapa aparece uma citação de Houellebecq: "A liberdade de expressão é a liberdade de comunicar uma obra do espírito a outros espíritos". Excusez moi?
"Estava à espera há dois ou três minutos quando se abriu uma porta do lado esquerdo e uma rapariga de cerca de quinze anos, vestida com uns jeans de cintura descaída e uma t-shirt Hello Kitty, entrou no hall, os seus longos cabelos negros caíam-lhe livremente sobre os ombros. Ao ver-me soltou um berro, tentou desajeitadamente cobrir a cara com as mãos e arrepiou caminho em corrida. No mesmo instante o Redinger apareceu no patamar superior e desceu as escadas ao meu encontro. Tinha presenciado o incidente, e estendeu-me a mão com um gesto de resignação.
- É a Aïcha, a minha nova esposa. Vai ficar muito incomodada, porque o senhor não devia tê-la visto sem véu.
- Peço imensa desculpa.
- Não, não peça desculpa, a culpa foi dela; devia ter perguntado se havia convidados, antes de atravessar o hall de entrada. Mas enfim, ainda não está habituada à casa, há de habituar-se.
- Sim, tem um ar muito jovem.
- Fez quinze anos há pouco tempo."
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