domingo, 18 de outubro de 2015

Chaves em 2014.

Conquistada a mui nobre etc. cidade do Porto - porque é onde vivo, confesso que não haverá terra em Portugal que mais me fascine e à qual tenha mais vontade de voltar do que Chaves. E não, não tem só a ver com a minha história pessoal.

O nome de Chaves não tem explicação óbvia na internet. Aquae Flaviae para os romanos pelas águas termais, só me resta assumir que a preguiça conterrânea fez descer o "fl" até um "ch", portanto de "Flaviae" até "Chaves", suavizando e sonorizando a coisa. Não interessa aqui meter o bacoquismo de que "ch" até é um som muito popular na zona.... galega. No brazão as chaves lá estão mas entenda-se que, embora cidade de fronteira, Chaves nunca defendeu grande coisa na exacta medida que por ali nunca houve grande guerra. Há muralhas, há tum forte e um castelo, mas as suas funções defensivas nunca foram postas terrivelmente à prova. A avenida dos Defensores de Chaves em Lisboa celebra a bravura republicana de uma terra contra uns melancólicos monárquicos chefiados em 1912 por Paiva Couceiro, já então a utilidade de castelos e muralhas pertencia à história.

Assim sendo, Chaves sempre foi terra não de muros e de exclusão mas sim de comércio e de encontro com o outro lado, legal ou ilegal, terra de muito contrabando - sobretudo de bebida, tabaco e animais - e de feira - vidé os "Santos", a grande feira do início de Novembro, que sem os galegos não faria sentido. Lembro-me ainda quando havia fronteira e de a ter passado a pé. Do outro lado uma terreola com o infeliz nome de... "Feces de Abaixo". Agora que não há fronteira, Feces não tem nem metade do trânsito - intestinal? - que antes tinha. Que o nome derive de um rio que se chama "Feces" não ajuda.

Chaves cresceu então ancorada em quatro pilares a saber: as águas termais, a fértil veiga do Tâmega, o comércio com a Galiza e a distância para o resto de Portugal. Chaves é o centro de um vale que será dos mais férteis do país. Também dos mais inacessíveis. A primeira vez que fui a Chaves foi na carreira da A-V do Tâmega. Quem sabe sabe que não há terra onde - até há muito pouco - uma empresa de transportes seja tão nuclear à sua qualidade de vida. O terminal de camionagem em Chaves é tão importante como o mercado ou o hospital. Nessa primeira viagem, a IP-4 ainda em construção, subia-se o Alvão a partir de Fafe, parava-se no Arco - do Baúlhe mas o hábito chamava-lhe só "o Arco" - para tomar um café, havia dois, o melhor ficava à esquerda - e eu vomitei no caminho. Depois percebi o que era um planalto ao chegar ao Barroso mas o mal já estava feito. Eu vomito pouco mas bem, estrategicamente, nas ocasiões mais importantes.
Naqueles tempos atravessar o Alvão e o Barroso para chegar a Chaves era a menos má das hipóteses, pois as voltas do Marão ainda eram não um mito mas a realidade, e a estrada a partir de Vila Real ainda era alguma. Hoje já não é assim. Chaves cresceu portanto, parece-me, como a mais galega das terras em Portugal. E isso não lhe fez nada mal.

Sem comentários:

Enviar um comentário