Nestes tempos incertos é interessante estudar um pouco o
mapa político da União Europeia para reflectir que União Europeia é esta que
temos.
Podemos dividir a EU em 5 sub-blocos: Norte/países nórdicos, Leste/os
países que saíram do antigo Bloco de Leste, Centro/o “core” europeu
franco-alemão, mais o Benelux e a Áustria, o Sul/Espanha, Portugal, Itália,
Grécia, Malta e Chipre e as… “Ilhas”/UK e Irlanda.
Primeiro vejamos que, de 28 governos, 16 são de
centro-direita, 11 de centro-esquerda e 1, o grego, de extrema-esquerda. Não
existe nenhuma diferença nestas tendências entre os diversos sub-blocos acima.
Espreitando então os 11 países do Leste, 5 têm governos de centro-esquerda, a saber,
Lituânia, Rep. Checa, Eslováquia, Roménia e Croácia. No entanto os partidos de
esquerda dos países de leste são um pouco diferentes dos países do resto da
Europa. Nascidos do nada após a queda do Muro de Berlim e não pertencendo a
nenhuma velha tradição socialista ou social-democrata, têm os nomes do costume
mas são economicamente tão ou mais liberais do que os seus colegas de direita
dos mesmos países, e não descuram alguma temática nacionalista quando é
necessário. Os países do Leste viram a sua chegada à EU como o fim de uma
corrida de obstáculos iniciada em 1945 e qualquer competição estranha é apenas
isso – competição. Nos países de Leste, portanto, com o mapa político tão
deslocado para o centro e a direita, a extrema-direita tem hoje muito pouca
representação, com a excepção da Hungria.
A Hungria de Viktor Orban é um caso único e levanta questões
morais e éticas – políticas, portanto - importantes à EU. O partido de extrema-direita
Jobbik tem 21% dos votos e o partido populista de direita de Orban 44% -
eleições de 2014. A Hungria é um pequeno país que vive hoje em dia envolto em
sonhos populistas de uma “Grande Hungria” herdeira do antigo Império
Austro-Húngaro, etc. Isto aconteceu também porque o governo socialista que
governou até 2010 foi dos governos mais corruptos e cínicos das últimas décadas
da EU, sendo conhecida a famosa conversa gravada onde o então PM socialista
confessava “ter mentido aos eleitores e isso ter sido útil e um sucesso”. Em
2010 a Hungria, a Hungria que já não era a de 1956, era um país à deriva, hoje
não. O readquirir por um país de um rumo não obriga a que este seja o correcto.
Antes a Hungria estava do lado de lá do muro. Hoje está do lado de cá e está a
explicita a existência desse muro construindo-o. Considerará – por motivos
políticos, éticos, morais – a EU alguma vez expulsar a Hungria?
Os cinco países da EU com mais votos na extrema-direita são portanto,
a Áustria, a Dinamarca, a
Hungria, a Finlândia, e a Letónia.
A Letónia é “apenas” uma questão de retórica anti-Rússia. Da
Hungria já falei. Vamos aos países nórdicos – e esclarecendo que na Suécia
também a extrema-direita também tem subido as intenções de voto. Os tempos de
Olof Palme já passaram a muito. Os países nórdicos mostram como resulta a
equação de a maioria da população ter muito e não estar afinal disposta a
partilhar, bem como a descrença progressiva numa politica de refugiados/migrantes
permissiva que durou anos e anos. Para dar um exemplo, a Finlândia tinha um partido chamado dos “Verdadeiros Finlandeses” –
que até já participou em governos. Agora mudou o nome para “Partido dos
Finlandeses”. A Finlândia terá o sistema de ensino mais desenvolvido do mundo
mas tem 21% da população a votar num partido que se chama… “Partido dos
Finlandeses!”.
A Áustria é um caso especial. A extrema-direita aqui também
já participou em governos, nos tempos do já falecido Joerg Haider. A Áustria é
um país engraçado, uma espécie de Algarve da Alemanha mas independente! A
Áustria é também uma espécie de “Alemanha sem culpa” – Hitler era austríaco mas
ninguém se preocupa com isso – e, portanto, é apenas um país riquinho que quer fechar
as suas portas e mais nada. A Áustria – o outro braço do Império
Austro-Húngaro, lembro, é um caso de psicanálise. E Freud era um judeu
Austríaco.
No resto do Centro temos na Alemanha Merkel de pedra e cal e na França, Hollande, uma
triste figura. A Bélgica enquanto país não existe, e a Holanda já esqueceu a
história de Anne Frank.
Agora vamos às... "Ilhas". A Irlanda sempre teve governos de direita moderados – e nacionalistas
porque herdeiros de toda uma tradição da guerra de libertação do Eire – e assim
continua. O Reino Unido tem 13% da população a votar no UKIP xenófobo e Cameron a surfar
a onda de um referendo para ficar ou sair da EU, a acontecer para o ano que
vem.I rest my case.
E o Sul? Ah, o Sul.
Somos nós. A Península Ibérica está governada pela direita, e ambos os países
têm eleições este ano, com resultados incertos. A Espanha está entretida
entretanto com os nacionalismos do costume, o que pode ainda mais baralhar as
contas. A Itália tem um governo de centro-esquerda que ganhou eleições a
Berlusconi – preciso de explicar quem é? – em 2013 por 0,3%. Tem uma
percentagem importante da população do norte a votar na extrema-direita e é,
portanto, um cata-vento eleitoral. Já o referi, Itálias, há umas quantas.
Fica a Grécia. Mas da Grécia já falei eu que chegue. E as
eleições vão ser as primeiras de todas a acontecer. Certo, certo, é que a
chegada dos refugiados não vai parar.
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