sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Aquele Querido Mês de Agosto, Miguel Gomes


 
"A vida nem sempre é fácil, meus amigos! Em Julho de 2006, ocorre uma pequena calamidade. A rodagem do filme, prevista para o mês seguinte, é adiada para data incerta. Falta dinheiro à produção para um argumento exigente, a ser rodado no interior de Portugal durante as festas de Agosto, e opções de casting ao realizador.
Rapidamente recuperado do choque, este decide partir para o terreno com uma câmara de 16 mm e uma equipa composta por cinco elementos – pequena mas brava! – e filmar tudo aquilo que lhe parecesse digno de registo, comprometendo-se a reformular a ficção em conformidade. Esta história e as que se lhe seguiram poderão encontrá-las no filme; embora, por amor à verdade, se deva reconhecer que as aparências iludem e que certos realizadores têm uma propensão genética para a mistificação.
Documentário? Ficção? A meio deste filme vemos uma ponte: a ponte romana de Coja sobre o rio Alva, da qual se atira Paulo “Moleiro”. Sem querer parecer Confúcio, diria que de qualquer uma das margens que esta ponte une se avista perfeitamente a outra. E que o rio é sempre o mesmo."
 
Este texto aparece no site da produtora.
O filme, que viu a luz em 2008, começa então em fogo lento, como se lhe faltasse dinheiro e actores. Pelos vistos faltaram. Fez-se no interior do concelho de Arganil. E com as gentes de lá. O truque do filme dentro do filme é velho. Nós compramos e as gentes de Arganil também.
No mesmo site aparece a sinopse:
 
"No coração de Portugal, serrano, o mês de Agosto multiplica os populares e as actividades. Regressam à terra, lançam foguetes, controlam fogos, cantam karaoke, atiram-se da ponte, caçam javalis, bebem cerveja, fazem filhos. Se o realizador e a equipa do filme tivessem ido directamente ao assunto, resistindo aos bailaricos, reduzir-se-ia a sinopse: «Aquele Querido Mês de Agosto acompanha as relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de baile». Amor e música, portanto."
 
Um pouco de exagero num detalhe: o fazer filhos não é aqui o principal. E agora falo eu avisando: talvez estrague alguma surpresa para quem ainda não viu.
Em tempos que já lá vão, os lençóis da noite de núpcias eram expostos na manhã seguinte no estendal exterior da casa.
Este filme trata de um amor de verão entre a vocalista adolescente de um grupo de baile e o seu primo emigrante que vem de férias. A mãe da miúda fugiu com outro homem há muitos anos. O grupo de baile é o pai dela, o marido abandonado, portanto, e um outro tipo. O pai do primo é o irmão da que fugiu, que tanto se parece com a filha. Entre os bocados de filme a fazer-se, de documentário kitsch e de videoclip de Arganil, o drama acontece. Pai e filha são muito próximos, demasiado talvez, e a aldeia não parece entender, o que entendemos numa desgarrada. Este filme está muito bem feito. Marante e o Grupo Diapasão fornecem a banda sonora perfeita. Aqui Sofia Coppola teria utilizado os Jesus and Mary Chain e mal.
É um amor de verão, já disse. Os amores de verão acabam com a estação. Aqui não há comboios mas há a rua à frente de casa onde os emigrantes chegam mas depois vão-se embora.
 
E no fim, pergunto, ela ficará a chorar ou a rir?
 
Meus caros amigos, só vendo...

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