quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Três.
"Ruas de cidade / como eu gosto dela
sem sol nem céu alto / cinzento anilado
sobre os monumentos / gatos à janela
os vasos regados / roupa pendurada
fumo de tabaco / nas cervejarias
num odor de tintas / os engraxadores
o desvão de escadas / das retrosarias
sobem a notários / e mercadorias
o estuque solto / com um calendário
os postigos abrem / ao incendiário
abrigo do Tejo / chuva de janeiro
que faz fugir gente / sob guarda-chuvas
gabardinas vãs / tu numas escadas
as calças de ganga / húmidas, sadias
parecia que tinhas / um boné de vidro
onde se perdiam / reverberações;
ou eram apenas / essas ilusões
em que Deus acolhe / as recordações.
A chuva que bate / numa clarabóia
o vento que corre / nas paredes velhas
as fasquias podres / algeiroses rotos
caleiras tapadas / fúnebres valetas
fundos sem vazão / tudo nos convida
à separação."
Joaquim Manuel Magalhães, Uma Luz Com Um Toldo Vermelho, ed. Presnça, 1990.
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