terça-feira, 8 de setembro de 2015

Hoje tudo me sabe a iogurtes.

"O meu silêncio estarrece 
os pássaros. Eles fogem. 
E deve inquietá-los. 
Também a bola de 
futebol, poderosa
arma contra tudo o que 
voa. São as 
casas feitas para 
ser pombais.
A vida humana nelas é 
um prefácio.
Onde vivo há já
um pequeno pombal.

Tão meu, chegar
(quase) no fim 
da festa."


Em Ovar, há muitos anos, fiquei em segundo lugar num concurso de poesia. O concurso já não sei quem o promovia. A entrega dos prémios - para mim uma medalha que ainda por aqui anda - foi na sede da rádio da terra, a Antena Vareira, onde eu fazia de conta que tinha um programa... de rádio. Nele passava os discos da minha namorada. 
A senhora que ganhou pôde ler ao público parte da obra. Era uma poesia expansiva e emocional, comme il faut. Lembro-me que um dos meus poemas a concurso usava a seguinte imagem: "hoje tudo me sabe a iogurtes". E explico: o iogurte é aquela comida que nunca é má, sabe mais ou menos bem, mas nunca será manjar de deuses. É um comer cinzento. Dizer "bora comer iogurtes!" nunca puxará ninguém. 
Acabada a leitura e debruada esta com palmas, uma jurada veio dar-me os parabéns mas sugeriu que eu "deixasse os iogurtes no frigorífico". A vaca!

A verdade é que hoje, hoje mesmo, tudo me sabe a iogurtes.

1 comentário:

  1. Para quando uma obra literária de tua autoria?
    Dedicada uma ao teu pai, a seguinte à tua mãe: Pode ser?
    Boa noite e tenta escapar aos iogurtes gregos, são demasiado calóricos para manter elegâncias! Lambuza-te com gelatinas vegetais, o sabor é idêntico...
    Abraçote da Teresa Griz da Gama

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