sábado, 12 de setembro de 2015

Que se foda a discussão do Acordo Ortográfico!

"As parêdes quando desabavam sobre o chão atapetavam o quarto de quadrado azul. Quando desabaam as quatro parêdes e o tecto eu já era o quarto iluminado a quadrado azul e sem chão. Succediam-se juxtapostos hieroglyphos syntheticos de expressão immediata e que apesar de não estarem gravados em nenhuma das faces do quadrado azul reproduziam-se nitidos em golpes de Radium pra dentro do meu cérebro impresso a helzevire. De entre muitas das frases resolvidas archivava-se..."

"Farmácia antigamente escrevia-se com "Ph", e agora?"

O primeiro extracto é parte de um texto de Almada Negreiros, o "K4 - Quadrado Azul", de que a Assírio e Alvim fez uma edição fac-símile.

O segundo texto é uma adivinha que, sabemos, não pode ter mais do que cem anos de inventada, porque até 1911, farmácia escrevia-se efectivamente... com "ph"! Almada Negreiros seguia a escrita anterior, renegando o Acordo Ortográfico de 1911, instituido pela República como verdadeira simplificação da escrita para combater o analfabetismo. Por isso "K4 - Quadrado Azul" é de 1917 mas está escrito como acima.

Da Wikipedia retiro - com a devida ressalva - um escrito de Teixeira de Pascoaes: 

"Na palavra lagryma(...) a forma da y é lacrymal; estabelece (...) a harmonia entre a sua expressão graphica ou plastica e a sua expressão psychologica; substituindo-lhe o y pelo i é offender as regras da Esthetica. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mysterio... Escrevel-a com ilatino é fechar a boca do abysmo, é transformal-o numa superficie banal."

Lembro-me de ter feito uma apresentação sobre a Escala da Dor da OMS - já no século passado... - e, sem pensar, usei durante todos os diapositivos a grafia antiga "dôr", talvez decorrente de leituras em livros da biblioteca dos meus pais. Fui cortesmente corrigido em público e ao vivo. "Dor" parece-me - sempre me pareceu... - pouca palavra!

Dito isto, até que me proibam irei sempre escrever em pré-1990, porque foi assim que me fiz escrevente. Agora protestar, não me chateiem.

Há coisas TÃO MAIS IMPORTANTES...

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